quinta-feira, 8 de maio de 2008

Depois de ter alinhavado as pessoas do lado esquerdo da carruagem, resolvi quebrar a regra. Há muito que esta figura que lia um gratuito nâo se mexia, resolvi então atacar. Tinha pinta de porteiro de discoteca, encorpado cabelo muito curto, casaco preto de cabedal, habituado certamente a detectar tudo pelo canto do olho, topou-me! Pousou o jornal num gesto súbito, a partir daí passou a seguir atentamente todas as curvas do meu pincel. Tentei desviar-lhe a atenção fingindo que desenhava pessoas lá do fundo, mas sentia o seu respirar de pit bull mesmo em cima das páginas do meu livro. O desenho continuou num misto de jogo do disfarce e invenção, mas serviu para reforçar a lição: nunca desenhar a pessoa que está mesmo na tua frente.

3 comentários:

Eduardo Salavisa disse...

Também é uma arte, desenhar as pessoas sem elas se aperceberem. Nunca me aconteceu, mas podem tornar-se violentas. Continuas em forma com os desenhos e as observações.

ze bird disse...

ah ah ah!!! LINDO.

Ricardo Frazão disse...

Achei muito interessante esta tua experiência. É deveras alucinante. Quase como um combate entre quem apenas deseja transpôr para o papel o que vê e como vê e quem se sente demasiadamente concentrado em demonstrar a sua "força" animal.... ou fragilidade. Abraço