sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Sala de Desenho

No tempo de um desenho, despedi-me hoje num dia de chuva, da “minha sala” em cima do Tejo, virada ao sol. Sem dúvida a sala de desenho mais bonita de Portugal, provavelmente também do mundo! Aqui estive mais de 25 anos, foi onde aprendi como aluno e professor o que vou sabendo sobre desenho. Pela primeira vez o Ar.co vai mudar de lugar, vai renovar-se e renovar um espaço melhor e maior, mas certamente bem menos solar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Eurico

Não sendo especialmente assíduo já sou no entanto da casa, passo à frente dos turistas, posso dizer que gozo desse estatuto territorial, se entro sozinho, tenho lá sempre um cantinho. Aperto-me entre os maduros do costume mais alguns turistas que entretanto já deram com aquilo. Vejo que não são os habituais que desembarcam dos navios desse tipo de carga nem os que rolam tróleis pela calçada, são ainda os das mochilas que estudam o Lonely Planet! Parecem estar bem integrados, metem conversa, são curiosos, perguntam-me porque é que ponho tanto azeite no bacalhau! Eles também pediram o mesmo porque deve vir no Lonely Planet, mas não é provável que lá diga que devem pôr muito azeite no bacalhau. Tinham-no comido seco e salgado, mas beberam vinho num jarrinho. A Dona Lina vinha sempre à sala, tratava-me por filho, costumava perguntar se estava tudo bem, se tinha ficado satisfeito, se comia mais um bocadinho, com esta nova afluência já não tem tempo para sair da cozinha. A Teresa trata todos por tu, faz a conta na toalha e os trocos no avental, na terra deles há muito que não existe nada parecido, além de tudo, ninguém acreditaria no que pagaram nem no que comeram. Lá fora a fila vai crescendo pela minha vez.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

workshops" Desenhos de Maré", Casa de Sta Maria em Cascais

É já no próximo Sábado dia 17 de Setembro a 1ª das 4 sessões previstas para desenhar a Casa de sta Maria e o espaço envolvente, Inscrições para o workshop desenhos de maré, abertas para uma ou mais sessões.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

São Pedro do Estoril

Entre São João onde acabam os Estoris e São Pedro onde eles começam, existe uma espécie de terra de ninguém. Uma recta incaracterística sem enseadas nem praias, onde ribeiras apressadas não fizeram vales e correm por terrenos rochosos caindo directamente para o mar. Entre o cá e o lá fica o forte conhecido por Salazar, um marco do princípio do fim do antigo regime. As flores das piteiras que nesta altura atingem o tamanho máximo, também anunciam o fim desta planta, onde aqui a exposição a sul proporciona exemplares desta espécie com um porte único, dando a entender que se dão melhor por cá do que no México, sua terra natal. É depois da Pedra do Sal que a geografia encontra as condições para a deposição de areias sobre os fundos rochosos, dispostos em forma de lajes, que parecem orientados geometricamente para que produzam ondas longas que podem ser surfadas durante muito tempo, desde “o bico” até à praia. Nos anos 70 nasceu nesta praia o primeiro clube de surf nacional e até que alguém reivindique o contrário, nos anos 50 foi surfada uma onda aqui pela primeira vez em Portugal, pelo amigo Pedro Martins Lima. Mas o que mais recentemente terá posto a praia de São Pedro no mapa, foi a esplanada, uma perfeita “passerelle” de belezas e vaidades que do nascer ao pôr do sol continuam a esperar pela sua vez.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Azarujinha

Próxima Estação... São João do Estoril. Assim continua a minha viagem, nesta direcção, no sentido contrário à rotina. Dizia o pensador Francês Marcel Proust que “A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos”. Nesta viagem nada é novo, tudo me é alias bastante familiar, as estações sucedem-se num alinhamento cada vez mais próximo de casa, só o facto te ir de comboio para a praia ganha sabor a adolescência, assim como o som do trim trim da única passagem de nível ainda existente junto à estação de São João. Aqui acabam os Estoris, dizia-se de forma trocista no início do séc.XX, Cascais – nobreza, Monte Estoril - grandeza, Estoril – grandela, São João – meia tigela! Ilustração de uma estratificação social que assim classificava a sucessiva ocupação e edificação dos terrenos para nascente. São João do Estoril foi ao longo do tempo sucessivamente retalhada, primeiro pelo Caminho de ferro que delimitou a fronteira entre alguma populacão rural residente a norte e as construções apalaçadas de veraneio a sul. Mais tarde com a construção da marginal que aqui bifurcou e separou o lado sul em retalhos, caminhos e becos sem saída. No caminho sinuoso para a praia passa-se pelo Santini com a menor fila à porta que se conhece, parece estar ali um pouco deslocado! Alguns metros à frente depois de virar a esquina sou tentado a entrar numa drogaria de bairro que pensava já não poder existir. Tudo ainda se vende naquele lugar fiel ao cheiro próprio das drogarias antigas, que nunca soube identificar ou saber a proveniência, provavelmente fruto da soma de todas as proveniências que estão expostas nas prateleiras, penduradas no tecto ou nas paredes. A porta abre directa para o tráfego de um dos sentidos da marginal, a drogaria Rodrigues é um exemplo ainda vivo do tempo em que estas ruas eram feitas a pé ou pelo menos a uma velocidade de passeio. A esta hora da manhã enquanto não se levanta a nortada e a briza vem do mar, quando se atravessa a segunda via da marginal já cheira às algas. Uns metros à frente antes de descer pelos sucessivos degraus de acesso à praia tem-se uma vista elevada sobre a transparência da água e do pequeno areal da Azarujinha. Talvez seja esta a mais mediterrânica praia urbana de Portugal, talvez a mais bonita praia da linha, talvez Proust tenha razão, viajar não tem a ver com a distância, a melhor maneira de ver com novos olhos talvez seja mesmo fazer um desenho.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Poça

Não podia saltar a Poça! Não estava no alinhamento das praias da linha para esta semana. Para não repetir a mesma estação seria suposto saltar do Tamariz para a Azarujinha. A Estação do Estoril é também a que melhor serve a praia da Poça situada a nascente no vale seguinte. Junto às antigas cocheiras do Tamariz, sobe-se pela antiga estrada anterior à marginal, que ligava os vales de Sto António e São João do Estoril. Sobranceira às arribas existe um chalet de veraneio em ruína dos princípios do séc.XX. Um letreiro anuncia em letras bem visíveis “propriedade privada, não está à venda" devia também dizer que está só à espera que caia. No enorme terreno circundante, bem de pé estão um conjunto de palmeiras quase centenárias que resistem ao escaravelho melhor que o Chalet aos proprietarios. Daí para a Poça é sempre a descer e estamos já em São João do Estoril junto do antigo edifício dos banhos onde hoje funciona provavelmente a cresce com melhores vistas de Portugal.

terça-feira, 14 de julho de 2015

A banhos no Estoril

Hoje o "tour" no comboio da linha levou-me a descer na estação do Estoril que para um estrangeiro soa melhor do que Sto António do Estoril. Lugar onde no início do séc.XX, muito poucas edificações existiam para além da Igreja de Sto António e de uma pequena estância termal de águas sulfurosas situada a nascente de uma praia menos abrigada numa baía sobre um vale com uma vasta extensão de pinheiros mansos. O Estoril foi projectado e planeado de raíz em função de um novo conceito de lazer para aqueles que gostavam e podiam ir "dar uma volta" (take a tour) ou seja fazer turismo, regalo ao alcance de uma burguesia abastada do princípio do século XX. A industria do turismo em Portugal começa assim aqui, num lugar de excelência entre Cascais e Lisboa, com um clima e uma situação geográfica perfeita, que podia ser estância de inverno ou de verão. Construiu-se o que tinha sido traçado, decretaram-se para o efeito incentivos fiscais espécie de “Golden Visa,” desse tempo, adoptaram-se miscelâneas de estilos e tiques arquitectónicos trazidos dos Alpes e das zonas costeiras italianas ou francesas revivalismos fantasiosos que misturaram estilos de castelos e palacetes germânicos com aquilo que se pensava ser uma arquitectura típica nacional. Tudo valeu num exercício de gosto eventualmente duvidoso, mas urgente para fazer com que o “tour” turístico europeu naquele tempo passa-se também por aqui, como afinal acabou por acontecer num período áureo em que a estação do Estoril chegou a ser o terminal do Sud Express. O turista hoje fui eu, que como outros confessa o prazer que tem no olhar romântico e nostálgico dessa arquitectura fingida de outros tempos de veraneio da nossa Reviera.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Monte Estoril

Tantos quilómetros quantas vezes para tão menos! Menos de 15 min depois de Carcavelos no sentido contrário ao da rotina desco no único apeadeiro da linha que ainda preserva algum encanto. A estação do Monte Estoril dá directamente para o paredão e o paredão directamente para a água. Sigo pela direita numa zona que já foi praia, agora artificializada por uma muralha de protecção do paredão que alargou. Chego à praia das Moitas, afinal não se chama praia da rata como é conhecida pelos surfistas, vai-se lá saber porquê? Uns metros adiante fica a piscina oceânica que tem pela frente o belo cenário do Palácio de Palmela e pelas costas o enorme monstro de metalo-marquises que parece estar na eminência de tombar sobre nós! O melhor é pôr os olhos no horizonte, esquecer o que vai para trás e gozar a nossa Reviera a 15min de casa e a 3.10€ (ida e volta).

domingo, 12 de julho de 2015

Praia da Rainha

CP o Comboio da Praia

A linha chama-se linha por causa do comboio da linha. O comboio da linha foi feito para servir as praias da linha. O começo da linha confunde-se com o começo dos hábitos de praia. Só recentemente é que a linha passou a servir os dormitórios e o sentido do trabalho. Hoje apanhei o comboio no sentido inverso o verdadeiro sentido, o sentido da praia. A praia da Rainha fica no centro da vila a 3 minutos da estação.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Depois da praia Arrifana Sebastião, Agosto 2010

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Arrifana Casa Transparente

A Janela da "casa transparente" foi um tema recorrente nas ultimas quinzenas de férias passadas na Praia da Arrifana.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Nos finais do séc XIX e inícios do séc XX a corrida das grandes potências europeias para dominar os territórios africanos de onde provinha uma boa parte das matérias primas que alimentaram os fornos da revolução industrial, geraram o enorme fosso económico e social entre o Norte e o Sul, fizeram e alimentaram duas guerras mundiais e outras tantas internas, cometeram-se injustiças sociais e políticas com as colonizações e descolonizações, foi com o passo maior que a perna, que se fez a História do séc XX. O avião tomou o lugar do barco a vapor e do caminho de ferro, desfez-se também o sonho e a necessidade de ligar por terra Angola à Contra Costa. O embraer da LAM esperava ali estacionado para as limpezas de rotina, trocar os toalhetes das cabeceiras e abastecer de saquinhos de amendoins para enganar a fome até Maputo. Sabe-se agora que debaixo do asfalto da pista de Tete existem gigantescos jazigos de carvão. O aeroporto vai ter de sair dali, agora como no início do séc XX volta a ser rentável explorar exaustivamente este mineral, com tanta riqueza emergente a manutenção da paz volta a estar comprometida e a lei ambiental terá de ficar para depois.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Enquanto os homens pescam no rio, não muito longe das margens na sombra dos embondeiros as mulheres montam pequenas vendas. Chegamos ao índico por uma via a perder de vista de coqueiros alinhados, há sempre gente a ir e a vir seja a que horas for, há sempre movimento a passo, mesmo que a próxima vila fique a largas dezenas de quilómetros. As praias na proximidade da foz do Zambeze são de água barrenta, a areia mistura-se com a terra trazida pelos rios, tubarões e crocodilos trocam territórios, o cenário de hoje das proximidades de Quelimane não será muito diferente daquele encontrado por Capelo e Ivens no ano de 1885. A viagem chegou ao fim, o mapa cor de rosa entre Angola e Moçambique tinha sido traçado a partir do final do séc. XIX pelos Portgueses que reclamaram esse pedaço de terra tão cobiçado pelas potências em ascensão de uma Europa industrial. Depois, foi o que se sabe, o ultimato dos que até aí tinham sido os nossos aliados.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Quando se desligava o motor da estável chata de chapa à deriva, acertava-se o passo com a corrente constante do Rio, só assim o tempo parecia parar, só assim também o silêncio parecia poder ouvir-se, flutuava-mos à velocidade das ilhas de vegetação que se desprendiam das margens, os crocodilos mantinham-se assim serenos os hipopótamos também, parecia que só o motor desligado podia fazer sincronizar a nossa estranha presença com a vida do Zambeze. Perguntei a quem de pé pescava numa instável piroga que se volta até com a esteira de uma pequena embarcação como a nossa, se não tinham medo de pescar ali com os crocodilos, esperava uma resposta segura e confiante de quem com experiência e desenvoltura dominava aquele meio, mas a resposta do pescador desarmou-me _" Sim tenho, mas se não pescar quando voltar a minha família não tem de comer"

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Mais à frente, guiados pela corrente passamos novamente por baixo da ponte Armando Emílio Guebuza, algumas milhas depois chegamos a uma bifurcação. Um braço do Zambeze segue pela esquerda, acredita-se que fosse por esse sentido que os exploradores portugueses tenham passado e fosse também esse o rumo do Rio dos Bons sinais que os levaria até Quelimane, ou talvez não! É afinal bem provável, que em 1885 quando a comitiva de Capelo e Ivens por aqui passaram que o Rio dos Bons Sinais já não fosse um braço do Zambeze tal como o fora cerca de 400 anos antes quando Vasco da Gama na sua foz assim o baptizou pelo facto de aí ter tido finalmente informações precisas de que estava certo no rumo que tomara na descoberta do caminho marítimo para a India. Afinal cerca de 130 anos depois o Zambeze nunca fora a auto estrada entre o Índico e o Atlântico que Capelo e Ivens haviam sonhado para escoar a matéria prima que alimentaria os fornos da revolução industrial que de facto mudou o mundo, mas o comboio e o barco a vapor cederam lugar ao automóvel e ao avião, dobrar o Cabo da Boa Esperança já não foi uma imposição, percorrer do Cairo ao Cabo na linha de caminho de ferro Inglesa não chegou a passar de um desenho e a nossa Linha de Benguela iniciada em 1899 (Angola 1899) nunca se chegou a cruzar com ela nem a unir-se com a Linha da Beira (Moçambique 1899. Nas margens do Zambeze com arpões, canas, redes e pirogas escavadas de troncos de árvores as gentes do Zambeze mantêm a forma de vida e as artes de pesca tal como no tempo da última epopeia dos Portugueses.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Primeiro rumamos a montante, o pequeno motor de poucos cavalos já cansados mal conseguia vencer a corrente, no entanto, olhando as ilhas da vegetação flutuante do Zambeze que se deslocavam para jusante, o pequeno bote de chapa parecia planar. Passamos a meu ver, perto demais de um hipopótamo fêmea que vigiava os filhotes, nunca me passou pela cabeça temer hipopótamos até ouvir algumas histórias nas vésperas de partida para África. Mais à frente um banco de areia fez o motor parar. A corrente trouxe a embarcação de volta, as orelhas da fêmea estavam outra vez cada vez mais próximas. Nos peluches do IKEA ou mesmo nos documentários da Nacional Geographic as feições dos hipos sempre me pareceram "fofas" mas não aqui! Nesta altura, calculava eu traçando coordenadas com referências na vegetação das margens, devia-mos estar com o casco do bote de motor calado mesmo por cima do dorso da fêmea! Olhei a cara do timoneiro rodesiano experiente que também não me confortou. A corrente que tão depressa nos colocou sobre apuros depressa igualmente nos afastou deles. Pouco depois o motor acordou e seguimos agora ajudados pela corrente em direcção da foz.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Foi o Dono do resort onde estivemos hospedados que acabou por quebrar o impasse. Não podíamos esperar mais tempo, o homem do resort foi também o homem do leme desenterrou uma velha chata de chapa das arrecadações apertou a bateria do land cruiser à embarcação esconderam-se os tripés e a câmera de filmar debaixo de uns oleados e finalmente seguimos pelo Zambeze acima.

terça-feira, 22 de abril de 2014

As inesperadas esperas geradas pela burocracia levaram a inesperados encontros e também a inesperadas histórias. O sr. Victor trabalhava no batelão que fazia a travessia dos carros e das mercadorias antes da ponte de Caia ser feita. Depois dela o batelão encostou numa das margens do Zambeze é lá que o Sr.Vitor hoje vive. Sem trabalho tornou-se pescador, conta que de noite adormece com os crocodilos a baterem no casco, sabia de cor quase todas as cidades Portuguesas, recordou com visível saudade um patrão de Coimbra que teve durante o tempo colonial, a ele lhe deve saber ler e escrever, também houve quem tenha tido essa sorte.

domingo, 13 de abril de 2014

Uma das heranças mais visíveis que os portugueses ali deixaram foi o empatar da burocracia. Papel qual papel? afinal já ninguém sabia que papel precisava-mos. Havia sempre alguém que devia estar e teria o tal papel, mas que, afinal naquele dia não estava, no entanto teria-mos de esperar por aquele papel ou pela tal pessoa que assinaria o tal papel. Mas qual papel? O da autorização do governo para pôr o barco na água e poder filmar. Mas afinal já trazia-mos da embaixada a autorização com selo branco, mas não servia, mas sim... mas não... certo foi que o tal papel nunca chegou a aparecer no instituto das calamidades entidade que supostamente nos conduziria Zambeze acima.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Tentamos a outra margem, ainda pusemos o bote na água e rumamos a montante umas boas centenas de metros até que um telemóvel tocou e não autorizou percorrer nem mais um metro de rio a cima. Desembarcamos numa doca improvisada e esperamos... 3 dias!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Não tinham ainda desengatado o barco do reboque puxado pelo Land Cruiser quando um telemóvel tocou e do outro lado alguma autoridade não autorizou o embarque naquela pequena rampa de acesso ao Zambeze também usada para as mulheres lavarem a roupa e as crianças tomarem banho.

terça-feira, 25 de março de 2014

Chegar ao Zambeze e navegar nele foi um dos grandes objectivos por nós traçados para Moçambique, afinal esse tinha sido o itinerário principal da viagem de Capelo e Ivens que em 1884 acreditaram que o Zambeze poderia vir a ser como uma auto-estrada de escoamento do comercio entre o Índico e o Atlântico. Tudo parecia simples depois de dispormos do que aparentemente seria mais difícil; um land cruiser e um barco com o qual procurámos embarcar no pequeno cais em Caia junto à enorme ponte rodoviária recentemente construída Armando Guebuza que une as províncias de Sofala e Zambézia, mas nem tudo correu como esperado.

terça-feira, 18 de março de 2014

A escala gigantesca que alguns embondeiros atinge cria relações de proporção que não parecem deste planeta, estas árvores são autênticos templos naturais, talvez também por isso, debaixo das suas copas se celebrem cerimónias religiosas. Neste templo sem cadeiras cada um leva a sua.

sábado, 1 de março de 2014

Se houve coisa que nesta viagem ficou bem acima das expectativas iniciais, foi a logística das dormidas. Partimos mentalizados que numa noite ou noutra, dadas as distâncias,a falta de lugares para pernoitar e sem tendas, seria natural que o carro pudesse vir a ser o ultimo recurso, embora sem espaço estaria-mos eventualmente mais protegidos até dos bichos, sabe-se lá que ainda andem por ali. Certo é que cobertura, quartos confortáveis, belos alpendres, grandes vistas ao acordar, ar condicionado e pequeno almoço incluído nunca faltou.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Tudo passa na estrada e tu se passa na estrada! O campo e a cidade em Moçambique estão ainda perfeitamente demarcados, mas ao longo da estrada não se anda muito sem que se aviste gente, mesmo ao parar o carro em lugar nenhum aparece sempre alguém. A estrada é uma oportunidade para o pequeno comércio, há jerricans laranja para todos os preços dependendo tanto do transporte como da distancia à bomba mais próxima, que certamente terá já esgotado a gasolina para que o comércio paralelo se possa fazer.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sim este sou eu! Foi o melhor que o Eliseu (segundo a contar da esquerda no desenho anterior) conseguiu depois de lhe ter passado o meu caderno com a caneta de pincel e ficar bem quietinho a posar para ele. Uma simples paragem para matar a sede e comer uma conserva numa cantina de beira da estrada valeu inesperadamente um dos momentos mais expontâneos e interessantes do documentário de Angola à Contra Costa.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O desenho anterior fez juntar uma pequena multidão de crianças curiosas; desenhar tem o efeito magnético de atrair pessoas e de as juntar no fascínio e na surpresa de ver quem descobre primeiro as formas que de uma maneira quase mágica se vão revelando. Queriam ficar todas no boneco, acotovelavam-se para caberem na dupla página do pequeno formato do caderno, no fim fui eu quem pousou para uma delas.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os quilómetros são muitos e o tempo pouco, por isso as paragens contam-se ao minuto, mas essas que não estão no guião, imprevistas, sem expectativas prévias, que acontecem em lugar nenhum de beira de estrada como esta, são as que se gravam na memória com maior profundidade.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

De quem seria esta casa? "É uma casa portuguesa com certeza, é com certeza uma casa portuguesa", não cheguei humildemente a bater à porta porque teria também de bater à porta a tantas outras inabitadas, abandonadas, degradadas, desventradas mas também conservadas como esta, ainda dos anos 40 num estilo "português suave", com pequenos "tiques" modernistas. Quem viveu ali? não sei precisar a rua de Quelimane mas se alguém através deste blog souber que o diga e conte aqui a sua história. Nunca vivi em África mas enquanto esta casa se ia fazendo no papel fui também fazendo a minha história: o pai trabalhava nos caminhos de ferro era funcionário público ia almoçar a casa: a mãe, de 3 filhos, doméstica, da janela da sala chamava os miúdos que brincavam na rua em frente quando o almoço estava na mesa: a empregada abria sempre à mesma hora o portão que lhe dava pela cintura para que o patrão pudesse pôr o carro debaixo do alpendre do quintal: o patrão tinha um Datsun creme com o qual regressava ao trabalho após a sesta do almoço. Agora como antes, tenho a certeza que se humildemente batesse à porta, sentava-me à mesa com quem quer que ali viva ou tivesse vivido.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Há bicicletas por todo o lado em Moçambique, vêm do oriente especialmente da Índia onde este modelo "pasteleira" idêntico às conhecidas em Portugal, fabricadas na já extinta indústria de Agueda, copia prefeita do design e dos materiais das famosas bicicletas inglesas "Raleigh" difundidas especialmente por todo império britânico desde o início do séc.XX. Curiosamente, em Angola praticamente não se viam bicicletas, talvez o terreno minado tenha afastado uma geração dos hábitos do pedal, as poucas existentes são agora essencialmente para fins recreativos ou utilizadas para pequenos trajectos restritos ao meio urbano e os modelos são idênticos aos que se encontram nas grandes superfícies sem "pedigree" nem interesse documental. Este é um modelo marca Hercules de roda 28 toda em ferro indestrutível de fabrico Inglês, marca que, apenas hoje sobrevive e exporta a partir da India que fica logo ali do lado de lá do Índico.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Enquanto o câmera Plácido e o realizador Álvaro afinavam os planos, tentava à viva força aproveitar as poucas sobras de tempo para desenhar, sob pena de chegar a Portugal com mais metros de "takes" repetidos do que páginas de caderno com desenhos apressados.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Chego a Quelimane no dia dos meus anos, comemore-se ou não é sempre um dia de alguma introspecção, mais ainda se torna quando se está longe da família e dos amigos mais próximos. Na frente da Catedral Velha, abandonada ainda durante o tempo colonial, corre conforme as marés ora para jusante ora para montante o Rio Quá-qua ou Rio dos "Bons Sinais" como lhe chamou Vasco da Gama, porque parece que foi na sua foz que o descobridor cerca de 400 anos antes de Capelo e Ivens terem ali chegado mas dessa vez por terra, tenha recebido informações sobre o piloto que o poderia guiar até à India. A maresia doce do Índico que o rio transporta durante a enchente chega a Quelimane bem diferente da tão nossa conhecida do atlântico , assim como, também a luz a humidade e as próprias gentes.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Depois da enorme volta por Angola, que na escala do mapa afinal se completa com meia dúzia de polegadas, à chegada a Maputo durante a longa espera do vôo para Quelimane desenhei o mapa de Moçambique. Nada como desenhar para decorar o recorte geográfico, ter a noção real do caminho a percorrer e inteirarmo-nos da verdadeira escala de um país. Logo cedo me apercebi que também ali tal era tão vasto o território, que a longa viagem que se adivinhava pelas margens do Zambeze entre o Zumbo e Quelimane no mapa pouca expressão tinha.

domingo, 24 de novembro de 2013

A grande batota da viagem concretiza-se! As regiões onde hoje fica a Zâmbia e o Zimbabwe que no passado tanto trabalho deram aos portugueses a cartografar, agora por motivos logísticos, iam ser vistos do ar bem longe de todas as tormentas descritas por Capelo e Ivens, numa altura em que não havia sequer ainda relatos ou documentos cartográficos sobre estes países. Lá do ar bem longe dos crocodilos, das investidas dos leões ou dos elefantes, sem as deserções da comitiva, sem malária nem doença do sono sentámo-nos a bordo confortavelmente com comida quente e bebidas frescas servidas por simpáticas hospedeiras, em algumas horas voamos pela serenidade do ar até Moçambique todo o vasto território que há pouco menos de 130 anos a comitiva dos exploradores Portugueses demorou mais de um ano e meio a percorrer a pé.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

De volta ao Hotel Pôr do Sol fechava-se aqui a ronda por Angola. Tinha-se cumprido a 1ª parte de uma viagem longa, mas só uma pequena área do enorme mapa cor de rosa. Desembaraçaram-se algumas teias de ideias, medos e preconceitos que se trazem da Europa sobre Angola. Luanda parecia agora bem mais amigável, foi com a proximidade da hora de embarque que comecei a gostar um pouco daquela cidade, o caos parece tornar-se agora belo. É dia 1º de Maio, dia de descanso do trabalhador, todos cumprem rigorosamente até os chineses hospedados no hotel. Ultima passagem pela ilha antes da ultima chamada para o embarque, o azul dos candongueiros torna-se ainda mais vivo com a luz do final da tarde junto à praia da ponta da ilha, alguns param já em cima da areia, é feriado trazem musica e cerveja jogam futebol metem golos e dão mergulhos. Talvez o lado mais expontâneo da vida se viva agora mais intensamente nas cidades que emergem do caos.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A ronda por Angola estava preste a concluir-se, o guia que levamos connosco da televisão angolana revelou-se imprescindível para que toda a comunicação e acessos aos lugares pudesse ter acontecido. Para além de um bom "pendura" mostrou ser também como um excelente piloto conhecedor de todas as manhas que a condução em África implica. Na verdade as estradas possíveis de se percorrer em Angola poucas vezes coincidiram com o percurso que a comitiva conduzida por Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens fizeram há cerca de 130 anos, que tal como nós partiram de Moçamedes, subiram a Serra da Leba, percorreram todo o planalto da Huila mas depois cruzaram o limite do território angolano que só mais tarde seria traçado a régua e esquadro bem junto à fronteira daquilo onde hoje fica o Congo Belga. Zona de acessos bem mais difíceis e perigosos e também bem mais a norte dos lugares por onde passamos. A produção de documentários faz-se assim mesmo, as dificuldades logísticas assim também o determinam, os relatos de Capelo e Ivens sobre a proximidade da bacia hidrográfica do Zaire com a bacia hidrográfica do Zambeze, afinal podia bem ser filmada ali mesmo numa pequena barragem nas proximidades do Huambo.

sábado, 16 de novembro de 2013

O dia de viagem foi longo... muito longo. À saída do Lubango o sol ainda não tinha nascido, já que não se aconselha viajar de noite, foi com uma enorme margem de manobra que partimos para poder encaixar no tempo de luz de um dia todos os possíveis azares tão próprios das viagens em África. Na Europa os mesmos cerca de 300 Kilómetros que teria-mos pela frente não se questionariam, bastaria quais quer 3 horas para se chegar em segurança de um destino ao outro, mas em Angola ainda não. Uma ponte caída obriga a que se faça um desvio pelo caminho mais longo, existem poucas alternativas viárias, de repente uma placa mal pintada, improvisada que assinale "desvio" pode significar mais um dia de viagem ou de paragem. Até ao Huambo percebia-se que a via que tomamos foi em tempos coloniais um estrada importante pela estrutura, planificação e edificação das vilas por onde passámos todas elas com fortes vestígios do efeito devastador que a guerra deixou nesta zona. Os dias em África são pequenos, a luz rende pouco, chegámos ao Huambo já bem de noite. Depois de assegurada a estadia num hotel que só este daria um enorme compêndio da exaltação do mau gosto, cansados e esfomeados, já fora da hora do jantar, numa esplanada próxima da rotunda do governo, ainda nos serviram um caldo verde, uma bifana e uma superbook. Ao lado das mesas umas scooters estacionadas, do outro lado da rua vivendas de uma traça que nos é muito familiar, não fosse o calor abafado da noite, estaria-mos certamente num qualquer bairro habitacional de Lisboa.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Novamente um rápido regresso de Africa directamente para a Rua do Cardal ali nas traseiras das grandes marcas da Av. da Liberdade onde se escondem as ruas de uma aldeia que também é Lisboa. O Atelier Cardal promove mais um passeio orientado por mim de diário gráfico na mão, "Entre as casas e as Árvores" num percurso que liga a Praça da Alegria ao Príncipe Real carregado de História e Estórias e também de Casas e Árvores fantásticas. É já no próximo Domingo dia 27. O Encontro é às 10h no Atelier Cardal com direito a cafezinho, o programa estende-se ao longo de domingo (Já não chove ver aqui) até às 18h com uma hora de intervalo para o almoço. Até lá...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

No pára - arranca confortável, sentado no banco traseiro do pequeno Chevrolet esboço as primeiras linhas deste desenho que sabia não poder terminar ali. O fim da estação das chuvas ainda pregava partidas ao trânsito, mas fazia alegria dos miúdos que perante a enxurrada rápidamente improvisavam uma enorme piscina aquecida sobre o asfalto ainda quente. Talvez só a voltem a ter na próxima temporada das chuvas.