A senhora lá do fundo que mal se vê no desenho dizia em voz alta:
Você pensa que eu não vi, mas eu vi muito bem que você me esteve a desenhar!
Sim e não foi só a mim, foi a mim àquele senhor do chapéu, foi esta senhora, foi este senhor aqui, que eu também vi, olhe que eu também sou artista e sei muito bem como é que é?
Quer que eu chame a polícia!...
_Até aqui ainda não tinha percebido se a senhora achava piada aos desenhos ou não, quando falou que era artista... pensei que tinha uma admiradora, mas quando disse que chamava a polícia...
_ Você não sabe que o que está a fazer é proibido! Eu posso lhe pôr um processo! Sabia disso? Ora diga lá como se chama?
_Procurei não dar ouvidos enquanto as cabeças dos passageiros que estavam de costas procuravam afinal quem era o fora da lei?
_ Sim você aí, foi esse senhor, desenhou-nos a todos!!!
Depois de ter sido identificado, repostei...
_ Oh, oh minha senhora não esteja a ser ridícula, eu posso desenhar onde me apetecer!
Nesse momento a senhora sentiu necessidade de organizar o seu exército, e em tom de campanha começou sem grande sucesso a tentar encontrar adeptos à sua causa, dirigindo olhares de convicção às pessoas que se sentavam por perto, até que o passageiro à sua frente se vira para trás e num bom tom de voz desarmou a senhora...
_ OH! MINHA SENHORA FALE POR SI!.. Não esteja a olhar para mim... fale por si!
A senhora meteu a viola no saco, saiu de "fininho" na estação antes da minha e quando passou por mim ainda sussurrou...
Eu sei muito bem... eu também sou artista!
22 comentários:
Há artistas de todo o género e feitio.
ADOREI!! Procura outra vez a senhora para a desenhar!
Um episódio que traz à memória o do Bismarck no Egipto ou o do António Jorge Gonçalves num qualquer metro do mundo.
Qualquer dia alguém tem de fazer uma antologia destas histórias, para deleite dos netespectadores...
Abraço
hihii... lindo!
fartei-me de rir com este post.
bjnhs
Ha ha!!
O que me ri!! Encontra-se de tudo nos transportes públicos, é esta riqueza que torna "os meios" um local fértil de observação da espécie humana sapiens citidinus ridiculus :)
Isso dos desenhadores em espaços publicos, uma corja! Um cancro que mina este pais! Era arrastá-los para um pelourinho e deixá-los lá sem roupa a ver se aprendem decoro e decencia. ;)
Conclusão: todo o cuidado é pouco ao desenhar "artistas"...
:-)
Eu acho que, na verdade, a senhora adorou sentir-se observada e desenhada. Fez-lhe bem à auto-estima :)
Eu não sei se gostava de servir de modelo para os teus livrinhos. Ainda se fosses um "artista"... vá lá que não vá... ainda por cima usas pouco o azul...
Se há coisa perigosa, neste mundo, são os artistas! Os artistas e as artistas, claro... Quando menos se espera, uns dão-nos asas num esboço, outros voo a meio de um verso.
Mas nada pior que o artista no seu reverso - pois, esse mesmo que, por dá cá aquele lápis, chama a polícia. É o artista com «...».
Ele há «artistas» destes danados para a brincadeira.
Surreal! Ainda não me aconteceu uma destas.
Talvez porque só desenhe em sítios ermos...
Abraço
Lindo!! hehe!
Quando vou a desenhar no autocarro tento ser discreta para evitar essas situações... Mas às vezes é dificil. =P
um fartote de rir ;D ;D ;D
tchi um verdadeiro mimo este episodio :)
beijinho mestre
Que história fantástica! A verdadeira riqueza da biodiversidade!!!!!
Olá João Catarino,
perdoe-me,
mas confesso,
fartei-me de rir com seu acontecido!
Sei bem como é desagradável
encontrar essas "pessoas" pelo caminho.
Passei por um episódio parecido em Galícia, só que a senhora sacou de um chicote e levei 2 correadas no pescoço. Isto dentro de uma igreja. Agora acho graça, mas no dia fiquei muito assustada, marcada e chorei muito!
Por aqui, no Brasil, as pessoas não se encomodam, até se sentem lisonjeadas em serem "modelos casuais".
Estou com o Felipe LF: "Qualquer dia alguém tem de fazer uma antologia destas histórias, para deleite dos netespectadores..."
A despeito do ocorrido, admiro muito o seu trabalho; tens uma linguagem única; um traço muito original e nada convencional, uma ocupação no espaço irreverante e criativa e o trato puro com as cores dão vida ao desenho.
Seu trabalho tem energia, transpira!
Isso é para poucos, parabéns!
Saudações
Li
Gostei da história...já me aconteceu parecido no meio do Alentejo a desenhar sobreiros...e meteu guardas florestais de caçadeira...mas acabou tudo em beleza
quanto aos desenhos acho uma grande ideia das composições a dois tempos. A carruagem vazia que vai acolhendo os passageiros
olá, mestre!
quando vejo estes desenhos, penso sempre:
onde está o pão de forma?
onde está o boogie?
e a carmo?
tenho-te visto passar na rua q sobe para o ar.co., nunca te consigo falar pq já vais longe...
ouvi o prof catarino mais velho na radar, foi memo giro, parece parecido contigo até na rádio...
fizemos anos de novo, eu 33 e tu mais alguns...
não sou nenhuma barra, mas também sou artista como a sra do comboio!
bjs!
O que as pessoas fazem só para chamar a atenção! O que vale é que mais ninguem ligou à senhora..
Adoro os teus desenhos, venho sempre que posso cá ver!
Saudades dos workshops do cieam!!
bj,
catarina
No supermercado, há uns 10 anos atrás. Um senhor vestido de branco e grande (talvez da secção da frutaria ou charcutaria) da um toque no meu ombro.
- Desculpe, mas a senhora está a fazer [palavrão técnico incompreensível]?
- Eu?.. não, quer dizer.. não sei. Isso é o quê?
- É que a senhora não pode estar a fazer isso aqui?
- Mas eu estou só a desenhar.. - já com vontade de ir ter com a minha mãe - não posso fazer o quê?
- É que não pode fazer isso aqui.
- Não posso.. desenhar?
- Não, não pode desenhar aqui.
- Mas é para um trabalho de escola.. é só desenhar, senhor..
- Mas não pode.
Dias depois arranjei um "saco do voyer" (saquinho comum cosido com uma parte de plástico transparente) e fotografei tudo quanto pude.
:P
Também tenho desenhado bastante em espaços públicos (principalmente comboios) mas nunca tive peripécias destas.
Até no Continente já estive a desenhar encaixes de packs de cerveja para um trabalho do curso de design, e o máximo que me disseram foi: "Ó fachavor, onde é que posso encontrar os tapetes de casa de banho?". Pelos vistos dei ares de trabalhadora e ninguém me considerou uma ameaça.
A minha amiga Matilde é que já teve uma história digna da antologia. A moça começou a entusiasmar-se com os desenhos e arranjou o seu primeiro diário gráfico. Algumas horas numa sala de espera deram-lhe a oportunidade de estrear o novo caderno. Foi desenhando as várias pessoas que por lá passaram até que uma senhora se apercebeu de que estava a ser desenhada. Chamou o marido e decidiu tomar uma atitude. Abordou então a Matilde, dizendo-lhe que ela não podia fazer aquilo, que era uma violação da sua privacidade, que era ilegal, que ela tinha de rasgar os desenhos e deitá-los fora.
A Matilde nesse dia não estava com disposição para contrariar a senhora e fez-lhe a vontade. Rasgou os desenhos e pô-los no lixo.
Foi então que ela se pôs a reparar nos pedaços no caixote.
"Olhe que até estão giros... Sendo assim..., já que não vai ficar com eles..., então levo-os comigo!"
É preciso ter muita, muita lata.
Caros artistas, dá jeito usar uma capinha da invisibilidade (como o Frodo do Senhor dos Anéis, para passar despercebido entre os orcs) para andar por aí a desenhar. Se encontrarem à venda na Fernandes, Corbel ou similares, por favor divulguem.
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