domingo, 1 de dezembro de 2013

Depois da enorme volta por Angola, que na escala do mapa afinal se completa com meia dúzia de polegadas, à chegada a Maputo durante a longa espera do vôo para Quelimane desenhei o mapa de Moçambique. Nada como desenhar para decorar o recorte geográfico, ter a noção real do caminho a percorrer e inteirarmo-nos da verdadeira escala de um país. Logo cedo me apercebi que também ali tal era tão vasto o território, que a longa viagem que se adivinhava pelas margens do Zambeze entre o Zumbo e Quelimane no mapa pouca expressão tinha.

domingo, 24 de novembro de 2013

A grande batota da viagem concretiza-se! As regiões onde hoje fica a Zâmbia e o Zimbabwe que no passado tanto trabalho deram aos portugueses a cartografar, agora por motivos logísticos, iam ser vistos do ar bem longe de todas as tormentas descritas por Capelo e Ivens, numa altura em que não havia sequer ainda relatos ou documentos cartográficos sobre estes países. Lá do ar bem longe dos crocodilos, das investidas dos leões ou dos elefantes, sem as deserções da comitiva, sem malária nem doença do sono sentámo-nos a bordo confortavelmente com comida quente e bebidas frescas servidas por simpáticas hospedeiras, em algumas horas voamos pela serenidade do ar até Moçambique todo o vasto território que há pouco menos de 130 anos a comitiva dos exploradores Portugueses demorou mais de um ano e meio a percorrer a pé.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

De volta ao Hotel Pôr do Sol fechava-se aqui a ronda por Angola. Tinha-se cumprido a 1ª parte de uma viagem longa, mas só uma pequena área do enorme mapa cor de rosa. Desembaraçaram-se algumas teias de ideias, medos e preconceitos que se trazem da Europa sobre Angola. Luanda parecia agora bem mais amigável, foi com a proximidade da hora de embarque que comecei a gostar um pouco daquela cidade, o caos parece tornar-se agora belo. É dia 1º de Maio, dia de descanso do trabalhador, todos cumprem rigorosamente até os chineses hospedados no hotel. Ultima passagem pela ilha antes da ultima chamada para o embarque, o azul dos candongueiros torna-se ainda mais vivo com a luz do final da tarde junto à praia da ponta da ilha, alguns param já em cima da areia, é feriado trazem musica e cerveja jogam futebol metem golos e dão mergulhos. Talvez o lado mais expontâneo da vida se viva agora mais intensamente nas cidades que emergem do caos.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A ronda por Angola estava preste a concluir-se, o guia que levamos connosco da televisão angolana revelou-se imprescindível para que toda a comunicação e acessos aos lugares pudesse ter acontecido. Para além de um bom "pendura" mostrou ser também como um excelente piloto conhecedor de todas as manhas que a condução em África implica. Na verdade as estradas possíveis de se percorrer em Angola poucas vezes coincidiram com o percurso que a comitiva conduzida por Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens fizeram há cerca de 130 anos, que tal como nós partiram de Moçamedes, subiram a Serra da Leba, percorreram todo o planalto da Huila mas depois cruzaram o limite do território angolano que só mais tarde seria traçado a régua e esquadro bem junto à fronteira daquilo onde hoje fica o Congo Belga. Zona de acessos bem mais difíceis e perigosos e também bem mais a norte dos lugares por onde passamos. A produção de documentários faz-se assim mesmo, as dificuldades logísticas assim também o determinam, os relatos de Capelo e Ivens sobre a proximidade da bacia hidrográfica do Zaire com a bacia hidrográfica do Zambeze, afinal podia bem ser filmada ali mesmo numa pequena barragem nas proximidades do Huambo.

sábado, 16 de novembro de 2013

O dia de viagem foi longo... muito longo. À saída do Lubango o sol ainda não tinha nascido, já que não se aconselha viajar de noite, foi com uma enorme margem de manobra que partimos para poder encaixar no tempo de luz de um dia todos os possíveis azares tão próprios das viagens em África. Na Europa os mesmos cerca de 300 Kilómetros que teria-mos pela frente não se questionariam, bastaria quais quer 3 horas para se chegar em segurança de um destino ao outro, mas em Angola ainda não. Uma ponte caída obriga a que se faça um desvio pelo caminho mais longo, existem poucas alternativas viárias, de repente uma placa mal pintada, improvisada que assinale "desvio" pode significar mais um dia de viagem ou de paragem. Até ao Huambo percebia-se que a via que tomamos foi em tempos coloniais um estrada importante pela estrutura, planificação e edificação das vilas por onde passámos todas elas com fortes vestígios do efeito devastador que a guerra deixou nesta zona. Os dias em África são pequenos, a luz rende pouco, chegámos ao Huambo já bem de noite. Depois de assegurada a estadia num hotel que só este daria um enorme compêndio da exaltação do mau gosto, cansados e esfomeados, já fora da hora do jantar, numa esplanada próxima da rotunda do governo, ainda nos serviram um caldo verde, uma bifana e uma superbook. Ao lado das mesas umas scooters estacionadas, do outro lado da rua vivendas de uma traça que nos é muito familiar, não fosse o calor abafado da noite, estaria-mos certamente num qualquer bairro habitacional de Lisboa.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Novamente um rápido regresso de Africa directamente para a Rua do Cardal ali nas traseiras das grandes marcas da Av. da Liberdade onde se escondem as ruas de uma aldeia que também é Lisboa. O Atelier Cardal promove mais um passeio orientado por mim de diário gráfico na mão, "Entre as casas e as Árvores" num percurso que liga a Praça da Alegria ao Príncipe Real carregado de História e Estórias e também de Casas e Árvores fantásticas. É já no próximo Domingo dia 27. O Encontro é às 10h no Atelier Cardal com direito a cafezinho, o programa estende-se ao longo de domingo (Já não chove ver aqui) até às 18h com uma hora de intervalo para o almoço. Até lá...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

No pára - arranca confortável, sentado no banco traseiro do pequeno Chevrolet esboço as primeiras linhas deste desenho que sabia não poder terminar ali. O fim da estação das chuvas ainda pregava partidas ao trânsito, mas fazia alegria dos miúdos que perante a enxurrada rápidamente improvisavam uma enorme piscina aquecida sobre o asfalto ainda quente. Talvez só a voltem a ter na próxima temporada das chuvas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Antes de mais uma vez e de forma tão espaçada retomar África gostava de anunciar a ultima chamada para as inscrições no curso de ilustração do CIEBA Na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. O curso terá 128 horas de Outubro a Fevereiro, às 2ªs e 5ªs em horário pós laboral das 18h30 às 22h30. O programa compreende vários módulos orientados por mim e pelo ilustre ilustrador Bernardo Carvalho. Inscrever aqui: http://www.fba.ul.pt/curso-de-ilustracao/

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Custa a querer que tenha sido na sombra desta acácia que em 1884 se tenha rezado a 1ª Missa na fundação de Sá da Bandeira. Curiosamente foi nesse ano também que Capelo e Ivens por aqui passaram. Hoje a acácia continua a fazer a sombra aos fieis que frequentam a capela construida no tempo colonial como marco desse acontecimento. Ao lado existe um cemitério com essa mesma data de formação e ainda uma escola bem mais recente. Uma grande animação de crianças chega e trazem de casa às costas as cadeiras de plástico onde no interior da escola se vão sentar. Assim sabem que só cuidando bem delas é que se podem sentar.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

As cantinas são os postos de venda que vamos encontrando ao longo das estradas, não há nada que se coma com relativa segurança que não seja já embalado ou em conserva. São também postos de paragem para arrefecer os motores mas sobretudo postos de paragem no tempo. Nada nestes lugares parece ter sofrido alguma alteração fosse no tempo colonial, fosse durante a guerra ou agora depois dela. Mas essa, para além das marcas físicas cravadas nas paredes desbotadas deixou também o hábito controlador de que cada um que por ali passe, poderá ser também um precioso informador. Enquanto se reforçava o remendo que se improvisou na reparação do depósito de gasolina alguém durante muito tempo olhou desconfiado para o que estava a fazer. No fim, para tornar mais amigável o olhar tenso do controlador, mostrei que apenas fazia um desenho, dei-lhe o caderno para a mão, mas os seus olhos voaram pelas páginas desenhadas e apenas se fixaram demoradamente na ultima onde escrevo os nomes e as moradas dos lugares para onde vou.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

No regresso do Lubango, agora com Huambo como destino algumas surpresas nos esperavam. Tinha sido um improbabilidade imensa ter chegado com o pequeno Chevrolet inteiro ao Namibe, parte da viagem de regresso seria pela mesma picada. Há segunda seria sorte a mais. Um camião que tentava fazer uma manobra de inversão de marcha trancou a estrada impedindo completamente a passagem dos carros que se iam amontoando à espera que alguém resolvesse o assunto. Esse contratempo foi a nossa salvação, quando parámos vimos que uma pedra que ainda há pouco sentado no banco de trás, havia sentido rolar de baixo dos meus pés, tinha furado o depósito de gasolina. O desenho não foi obviamente feito nestes momentos de aflição, nestas alturas todos dão o seu palpite mais ou menos construtivo mas um desenho nesse momento certamente não cairia bem. Também dei os palpites da ordem ainda mastiguei uma pastilha elástica para colar debaixo do depósito mas que a gasolina dissolveu bem mais depressa do que eu apressadamente mastigava a segunda pastilha. Valeu-nos o Plácido o nosso camera men MacGyver que falou menos e agiu mais, inventou um fabuloso engenho em que primeiro cravou uma agulha e um alfinete de dama no pequeno buraco do depósito ao que juntou alguns materiais de higiene pessoal e primeiros socorros que tinha-mos à mão e conseguiu remendar o problema. Não tivesse o camião barrado o caminho ficaria-mos sem gasolina algures num não lugar como tantos que há em África. Nessa noite já chegamos tarde para jantar no Huambo, o remendo que seria um improviso para remediar alguns quilómetros tinha se revelado altamente fiável de tal modo que rolamos mais de 1200 quilómetros até chegar novamente a Luanda, onde com a maior cara de pau entregamos o carro ainda com o alfinete de dama cravado no depósito.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sá da Bandeira foi no tempo colonial a capital de uma região com muitas atracções turísticas. Hoje vêem-se ainda na cidade do Lubango todos os vestígios da veia mais cosmopolita da cidade, agora os tons pastel do fim do art deco construído durante a década de sessenta, desmaiados já desde então, estão hoje sem qualquer brilho no pigmento, mas é esse também o seu novo encanto. Como qualquer outra cidade turística da metrópole ali se vêem igualmente tabuletas de informação turística, com ilustrações ingénuas das atracções que se podem visitar nos arredores, assim como o grande centro poli desportivo onde à sua volta se disputavam as mais famosas corridas de automóveis de Angola e o ex libris cultural o ciné-teatro Arco-Íris, palco de todas as festas da sociedade pré descolonização. Mesmo nunca tendo vivido ali nesses tempos, era inevitável olhar estes lugares com alguma nostalgia.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Sé catedral do Lubango mantêm-se com o peso e a imponência das obras feitas com essa pretensão durante o estado novo, a guerra passou por ali de raspão, sentimos ainda que a antiga cidade de Sá da Bandeira é um lugar aprazível, o clima temperado e embora bastante usada ainda assim a cidade está preservada.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Serra da Leba

Os cerca de 200 km que separam o Namibe do Lubango são feitos pela nacional 280, uma estrada agora de bom asfalto que inicialmente atravessa superfícies arenosas quase desérticas à cota do mar, até se aproximar da Serra da Leba onde pela sua influencia tudo se vai tornando mais verdejante e fresco. Aí iniciamos um dos percursos mais curtos, mas mais contrastantes e vertiginosos de todos os que fizemos em Angola. A Serra da Leba constitui um enorme degrau geográfico que divide aquela zona de África da influencia atlântica e da influencia continental. Em pouco mais de 20 Km passamos quase do nível do mar até mais de 2000 metros de altitude. Nas curvas que serpenteiam a subida vamos sentindo as mudanças climáticas, passamos pelas nuvens, pelas sombras frias, por cascatas cobertas de musgo, assim como pelas escarpas expostas ao calor tórrido, também por trovoadas e aguaceiros que na curva seguinte se dissipam na evaporação do asfalto ainda quente. Todo o cenário é já um filme, mas não havia espaço para parar e filmar. Saí do carro e subi alguma parte a pé entalado entre o esmagamento do rodado dos camiões que desciam a chiar dos travões e a vertigem das escarpas separadas pelos rails de protecção que pareciam não ter espaço na beira onde se agarrar. Numa curva uns quilómetros mais acima havia de estar o Câmera-men que com a lente me ia seguindo à distancia.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Rio Muninho, Angola

Entre Namibe e Lubango procuramos nas margens do Rio Muninho a correspondência possível às descrições dos relatos que Cabelo e Ivens tinham feito do mesmo lugar ou de um lugar próximo há 127 anos atrás. O carro ficou parado na beira da estrada e não muito longe dali corria este rio de água limpa e fresca, onde fiz o desenho que ia sendo interrompido entre as repetições dos takes e os ajustes do plano. O sol estava a pique o calor era abrasador, mas banhos só mesmo o dos salpicos, nestes lugares por mais bela que seja a paisagem os banhos nunca são tranquilos.

domingo, 19 de maio de 2013

Turmina e Carlota foram as primeiras a chegar de um ajuntamento que se formou mal a dança terminou. Ali como em toda a parte o desenho têm esta propriedade magnética de juntar pessoas gerar expectativas e aguçar a curiosidade, todos quiseram também o seu retrato, mas a produção salvou-me a tempo daquele congestionamento, tinha rapidamente de preparar o próxima acção e ensaiar o que estava escrito no guião.

sábado, 11 de maio de 2013

O câmera men entrou pela dança a dentro e os planos ora se aproximavam ora se afastavam, colavam-se à pele e às vestes seguindo o ritmo frenético dos batuques. Tentei ir atrás com o meu caderninho e a caneta pincel obviamente bem mais lenta que o filme.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não sendo o lugar daquela tribo por enquanto um destino turístico, ainda assim depois de devidamente acordado com o soba daquela aldeia alguma parte dela pousou para a fotografia, para o filme e também para o desenho. Vestiram-se com os panos tradicionais que afinal também já só servem para receber visitas com todos os acessórios de caça, defesa e ornamento que nós europeus imaginamos que as tribos não possam prescindir, o que não nos passava pela cabeça era de ver à cintura o clássico Nokia 33-10 "o land cruiser dos telemóveis". Também tive um!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

No dia que deixamos o Namibe em direcção ao Lubango fizemos uma visita a uma tribo que entre os "gadgets" de caça manufacturados tinham também telemóveis! Não era habitual a presença de não africanos por ali, havia crianças que nunca tinham visto um homem branco e que fugiam com o pânico de quem foge de um leão.

sábado, 30 de março de 2013

Do Namibe não se sai para muitos lados, ou se volta para trás de regresso ao Lubango, ou se segue numa picada junto ao litoral na direcção de Lucira, ou se vai pelo deserto numa estrada acabada de asfaltar na direcção de Tombwa, antigo Porto Alexandre. Foi essa ultima a nossa opção, para se poder filmar segundo a ordem do guião no ambiente desértico que correspondesse às descrições de Capelo e Ivens. Outras descrições sobre esta zona de Angola falavam da existência de cobras e escorpiões do deserto do Namibe mas também de uma planta que sempre ouvi falar e que pelo facto de apenas existir ali e em alguns lugares na Namíbia, constitui um autêntico símbolo nacional. Curioso é que, também graças aos campos minados deixados pela guerra esta planta parece poder preservar-se melhor ali do que no país vizinho! De papel na mão enquanto decorava o guião, a medo ia levantando uma pedra após a outra na mira de encontrar um escorpião do deserto, neste deambular deparei com a primeira Welwitschia Mirabilis, depois outra, depois outra, e outra ainda maior! Olhei em redor e vi que afinal havia imensas até se perderem na linha do horizonte. Estas plantas crescem muito devagar algumas delas podiam ter perto de 1000 anos, grande parte possivelmente já lá estavam quando em 1884 Capelo e Ivens por ali passaram, 25 anos depois do explorador botãnico Friedrich Welwitsch a ter descoberto numa viagem de exploração botânica a Angola subsidiada pelo estado Português. A Equipa de filmagem desconhecia a importância deste "monumento" vegetal, não fossem as minhas advertências e o nosso 4X4 por pouco passava-lhes por cima. Não foi fácil convencer a produção para que na madrugada seguinte, mesmo antes do sol nascer, à hora em que as cobras saem para caçar, aquela planta mesmo não fazendo parte do guião, teria de merecer um "take".

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os planos de rodagem para o segundo dia no Namibe saíram furados, alguns quilómetros depois da saída da cidade uma enorme fila de camiões deixava antever que alguma coisa se passaria para que o transito não fluísse na saída principal que faz a ligação com a estrada para o Lubango. Nesse dia tinha-mos marcado um encontro com o Soba de uma aldeia próxima, mas em África é mesmo assim, lidar com o imprevisto é uma lição que não se aprende logo. Na noite de chegada aquela cidade tinha uma ponte caído, agora na saída foi um camião cisterna que se virou. Se viesse uma grua de Luanda poderia demorar uma semana a chegar, seria mais rápido abrir uma picada que fizesse mais um atalho, mas isso, por mais rápido que fosse seria sempre demasiado lento para o ritmo de rodagem de um documentário europeu.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Também no Namibe uma boa parte do tempo era passado à procura do fulano tal de uma repartição tal que nos deveria conduzir para falar com o encarregado tal que agora foi almoçar, mas que nos haveria de passar um tal papel que confirmaria a tal autorização para poder filmar em tal parte. Nestas andanças enquanto se espera e desespera o desenho pode acontecer no virar de uma esquina no coração do tráfego de motorizadas que cruzam os quarteirões no limite da máxima rotação. Tudo cheira a "deja vu" desde arquitectura do sul de Portugal à memória do som e do cheiro das motorizadas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Breve intervalo na programação Angolana para anunciar o curso de ilustração que se segue na Fbaul. E se os ilustradores soubessem também criar as suas próprias histórias? Ficavam com a faca e o queijo na mão e certamente com mais possibilidades de intervir. O Limite das inscrições é já no final da próxima semana consultar o programa aqui.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

No Namíbe tudo se estende na horizontal, a construção é de baixa densidade e de baixa altura, há muito espaço para tudo se espraiar junto do litoral pelo solo árido e desértico. O caminho de ferro de Moçâmedes começa ali num emaranhado de carris até à data ferrugentos. Esta é segunda linha férrea mais importante de Angola começada a construir logo no início do século XX pouco depois da linha de Benguela. Em Agosto passado foi reactivada, pouco a pouco as artérias de Angola sejam em ferro ou asfalto vão recomeçando a funcionar.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Baía de Namibe é desolada suja e encantadora. Felini podia bem ter rodado ali um filme, mesmo no seu tempo e nos anos que a cidade conheceu alguma prosperidade o cenário não terá sido muito diferente. Agora com a patine impressa pelo tempo, a ferrugem dos aparelhos de pesca que restam, as brincadeiras das crianças descalças que chutam qualquer coisa que sirva de bola, as carcaças das embarcações, a vadiagem de canitos pele e osso, o ar desocupado das pessoas numa cidade com tanta terra ainda por ocupar, torna tudo verdadeiramente encantador, com tanto tempo que parece ter para gastar apetece ficar a fazer um filme sem mais nada, montar o tripé e deixar a câmera ligada. Esse seria o verdadeiro registo da Baía de Namibe, mas a história que tinha-mos de contar era outra. Foram estas as primeiras casas algumas edificadas outras escavadas na falésia que os Portugueses vindos do Algarve construíram. Quando Capelo e Ivens aqui chegaram em 1884 a cidade de Moçâmedes (actual Namibe) ainda mal figurava no mapa, aqui formaram a caravana de guias, carregadores e toda a logística necessária, deixaram o atlântico e partiram por terra a caminho do Índico na contra costa de África.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

No sul de Angola tudo continuava a parecer muito familiar, já tarde depois de procurarmos alojamento numa pequena pensão numa casa de traça algarvia com um pátio interior empedrado, onde se seca e lava a roupa num tanque de cimento como nas casas que se alugavam nas férias no Algarve antes da oferta de camas ser o que é hoje. No clube Naval do Namibe ainda nos serviram jantar, na ementa não havia um só ingrediente que não fosse completamente familiar. A corrente fria de Benguela faz com que ali seja um dos lugares de pesca mais importantes de Angola, terra de bom peixe mas a fome ditou que em pleno Namibe o que veio à mesa fosse depois de uma sopa de legumes com rodelas de chouriço a flutuar uma bela carne de porco à Alentejana.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Contra todas as advertências e expectativas sobre a resistência e a capacidade que o pequeno Chevrolet teria em conseguir transpor os obstáculos que encontrou pela frente, lá chegámos ao Namibe graças sobretudo à perícia de condução dos nossos produtores. Esse sempre foi aliás o meu maior receio antes e depois de partir para África, o facto de não conhecer devidamente a equipa com quem me ia enfiar dentro de um carro durante cerca de um mês para atravessar África de Angola à Contra Costa. A noite caía rápido algumas dezenas de quilómetros antes de chegar ao Namibe, quando alguém nos avisou que teríamos de voltar para trás porque uma ponte tinha caído recentemente durante a estação das chuvas. Já bem cansados e com a expectativa da meta à vista tornava-se bem mais difícil de segurar o moral. Tínhamos mesmo de voltar para trás e conforme as indicações, seguir já de noite durante largos quilómetros por um desvio sobre pistas de pedras e areia sobre o deserto do Namibe, passámos por vários jeeps parados com pneus furados, uma família com o carro atolado montava um abrigo à luz dos faróis, para ali pernoitar junto dos trilhos de areia que se iam abrindo com a passagem dos jeeps. Com sorte escolhemos o trilho certo. Chegamos à antiga cidade de Moçâmedes onde Capelo e Ivens teriam organizado a sua comitiva de guias e carregadores que os acompanharam atravessar África a pé até do Atlântico até ao Índico.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Depois de Benguela o caminho mais curto pelo mapa até ao Namibe, seria pela estrada do litoral, cujo asfalto termina pouco depois de Benguela e daí segue por atalhos e desvios, por montes e vales desérticos atravessando pequenas povoações de pescadores por uma costa de praias e falésias arenosas infindáveis e quem sabe até com baías de água cristalina e ondas perfeitas ainda por descobrir. Essa era a via que eu gostava de ter feito mas impensável para o nosso pequeno chevrolet citadino. A estrada transitável para sul é só uma, a que segue por Chongoroi, pelo interior até ao Lubango e depois ruma a oeste desce as curvas da Serra da Leba e daí até ao Namibe segue por uma planície na mesma cota do mar. Depois de Chongoroi afinal a dita via transitável pelo interior, a seguir à estação das chuvas deixara de o ser. Há muito que o asfalto tinha sumido, havia vestígios de antigos marcos de estrada, de bermas empedradas e protecções em cimento como as que vemos na estrada marginal entre Cascais e Lisboa a mais de um metro de altura do nível onde hoje os camiões escavam na lama um novo rodado. Vários foram os que paravam para nos avisar de que a estrada não estava transitável para o pequeno Chevrolet sem tracção total, mas se os Kupapata ou mesmo alguns candongueiros passavam nós também havia-mos de passar.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

São cerca de 180 quilómetros de Benguela a Chongoroi, uma pequena povoação onde,quando há gasolina na bomba se pode abastecer oficialmente, se não houver, há sempre quem sabe de alguém que arranja gasolina clandestina em jerry-cans cor de laranja ao dobro do preço. Também aqui se pode pernoitar no "cavalo preto" um tasco com alma bem Portuguesa, vendem-se cachorros e bifanas em papo secos, sagres e superbock, há posters e galhardetes pendurados do benfica, os quartos ficam por cima como no oeste, o tasco enche com a paragem das camionetas que vão para o Huambo , para Benguela ou para o Lubango, para logo ficar vazio até que chegue a próxima carreira. Até ao Lubango falta a outra metade do caminho, e outro tanto até ao Namibe. Daqui para frente a estrada que se vinha revelando como uma boa surpresa tornar-se-ia uma verdadeira prova de resistência.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Na manhã seguinte deixamos Benguela ainda cedo, apetecia ter estado um pouco mais, fiquei com a sensação de poder viver ali, tudo me parecia muito familiar, a arquitectura popular do sul de Portugal construída até meados do século XX transplantada para o centro de uma cidade tropical e a arquitectura típica dos anos 60 dos novos bairros periféricos de Lisboa, que marcam ali também perfeitamente as áreas de implantação da habitação que serviu o grande êxodo dos Portugueses para África por essa altura. As construções de tons pastel agora despintados mas neste caso particular quase intactos, sem nada que se tenha erguido por perto que perturbe o enquadramento faz-nos em cada quarteirão viajar no tempo. Sem mais nostalgias esperavam-nos algumas boas centenas de quilómetros por estradas que nunca se sabe bem ao certo se chegam ou não ao Namibe, antiga cidade de Mocâmedes bem no sul de Angola. Pelo caminho não há tempo para paragens, menos ainda para desenhos que só seriam passados para o papel depois de gravadas na memória visual as imagens das cantinas de beira de estrada, dos embondeiros e dos Kupapata que passavam ao lado com ou sem clientes no selim da motocicleta.