segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Depois do kilómetro da Valada recta onde se realizaram as primeiras provas automobilísticas em Portugal, vira-se à esquerda na direcção do rio Tejo e chega-se por uma estrada de terra à Palhota. Será aqui talvez onde se encontra o testemunho mais autêntico da forma de vida deixada pelos "ciganos do Tejo" como lhe chamou Alves Redol no seu romance "os Avieiros". Os Avieiros foram-se fixando por ali entre embarcações e as margens do rio, vieram da Praia de Vieira de Leiria junto à foz do Liz para fugir à precariedade da pesca de mar durante os difíceis meses de inverno. Sazonalmente migravam para o Tejo onde começaram por viver em barcos que construíram à semelhança dos barcos de proa levantada que usavam na Praia da Vieira mas aqui adaptados à dimensão da pesca de rio. Faziam a época do sável, da lampreia, da fataça e da enguia mas durante o verão regressavam à praia para a pesca de mar. Do início do séc XX até meados da década de setenta vieram a fixar-se de forma mais permanente nas margens do Tejo onde construíram também habitações precárias muito curiosas assentes em estacas também idênticas às construções de madeira que faziam na Praia da Vieira onde as estacas serviam para que a areia não cobrisse as habitações e aqui para que o nível das àguas pudesse subir e descer livremente.
Nos anos setenta a agricultura, mas sobretudo a emigração e a construção substituiram a principal actividade destas gentes que gradualmente foram deixando a pesca do rio que deixara de ser rentável. Estas pequenas comunidades entraram em declínio a maior parte das habitações ficaram ao abandono ou foram destruídas. Hoje existem ainda algumas genuínas e outras tantas para turista ver.
Dei a volta a pé pela única rua circundante da Palhota, após o almoço de um dia sombrio de junho havia carcaças de barcos de madeira podre debaixo das àrvores junto ao rio, havia também alguém a reparar um exemplar destes que ainda tinha recuperação, algumas famílias falavam em francês, vieram de férias verão reacender memórias e trouxeram os mais pequenos, netos e filhos que não chegaram a viver aquela realidade e para quem aquele lugar deve ser um outro planeta, um letreiro pintado em azul sobre um resto de um casco, por cima do ùnico tasco, avisava hoje há sável!

3 comentários:

Baleia disse...

Q bela surpresa falares destes locais que me são tão familiares...

Não sei se sabes, mas tenho costela ribatejana. Valada e Palhota fazem parte do nosso roteiro-domingueiro nas idas à "terra"... São, de facto, um espectáculo!

Na faculdade, cheguei a fazer um trabalho sobre as pescas em duas aldeias Avieiras: Palhota e Caneiras (em Santarém).

Bjnhs!!

João Catarino disse...

Se calhar somos primos querida Baleia!
Também tenho umas costelas Ribatejanas algures perdidas na lezíria, a minha mãe é de Vila Franca de Xira.

Baleia disse...

Q giro... Não sabia!
e a minha mãe é do cartaxo!

bjhs!!