No tempo em que os nossos pais tinham carros assim, viajávamos no banco de trás a perguntar constantemente quantos kms faltavam.
Aquela recta da (EN)259 era paragem obrigatória de qualquer família na ida ou na vinda de férias do Algarve.
Sabia-mos que na altura de desentropecer as pernas, estávamos sensivelmente a meio caminho.
Lembro-me das advertências e dos cuidados para atravessar a estrada. Quem não parava, passava a todo o gás, os camiões faziam uma deslocação de ar que quase nos arrancava os sapatos do passeio e ouvia-se o silvo das grelhas dos automóveis
a cortarem o vento. Muitas famílias perderam aí a vida, na ânsia de um Cozido à Portuguesa ou de um barquinho de pinhões.
Em meados dos anos 90, com a finalização do ultimo troço da (A)2, o Canal Caveira morreu, chegou a parecer uma cidade fantasma dos filmes de cowboys ou a recta da meta de um autódromo abandonado.
Hoje paradoxalmente graças à crise parece reanimar. Algumas famílias para fugir à portagem regressaram à 259. Eu fiz o mesmo, as portagens são um roubo, além disso este modelo 1600 que saíu em 1970 das linhas de montagem do Batista Russo em Vendas Novas, está muito mais habituado a qualquer (EN) do que a uma (A) ou (IP).
12 comentários:
Ao ler o teu relato parecia que estava a ver aquelas imagens de cores desbotadas com míudos de t-shirts às riscas e calções, os pais de gel e óculos escuros e as mães de lenço na cabeça...
Granda filme.
Abraço
O Canal Caveira faz parte do imaginário colectivo pré-A2. Um sítio que gozava de alguma fama (dentro de certos círculos que - bem vistas as coisas, eram mais pontos que círculos) era o Hermínio, o Paraquedista. Homem compacto, camisa aberta e falo dourado ao pescoço, Hermínio vendia sandes de presunto e tostas capazes de servir de raquetes de neve em caso de necessidade!
Obrigado pelo post, João! Uma bonita homenagem a esse local cheido de mística, negociatas de futebol e cozido canino.
Já leste o livro "As duas estradas" do Planeta Tangerina?
bjnhs
Senti-me noutros tempos por essa estrada fora... mas não troco a Ericeira pelo Algarve e por isso te trago um pouco do vento e das ondas largas da praia do sul donde acabei de chegar.
Como se tem saudades de um tempo que não se viveu? Tenho saudades do tempo em que os carros eram assim, em que as estradas eram nacionais, as praias sazonais, as casas tinham nomes e andorinhas de loiça presas às paredes, os telefones eram pretos com um disco rotativo de som inconfundivel, as pranchas, que cá praticamente não existiam, tinham uma quilha e, claro, o chocolate era Regina. Felizmente o chocolate ainda o encontro nalgumas bombas de gasolina, com o mesmo sabor da infância, que felizmente no meu caso ainda se pode dizer que é coisa relativamente recente.
Eh eh eh....
João, já não vinha aqui ao teu blogue há que tempos...sorry!
Adorei ver os desenhos da Ria Formosa!
Espero sinceramente que a "minha Menina" consiga entrar este ano nas Belas Artes!
Bjs
FABULOSOS DESENHOS...
Texto fenomenal à parte, és a única pessoa que conheço que desenha carros, e onde eles parecem objectos altamente nostálgicos e apetecíveis! Parabéns! Patrícia. (cieam 2009)
Ehehehehe...até se chamava na altura, «recta da morte»...Agora tem um traço contínuo ao longo de mts Kms.
Gostei de recordar tudo isto :-)
Este ano tb já fiz o mesmo...ir por aí para Sul pq é mais barato e engraçado.
Boas férias :-)
Maria
E agora q já tens o livro, o q é q achaste? não é lindo? e não é uma agradavel "coincidência" à tua descrição?
bjnhs!
Olá Baleia! Que coincidência o lançamente desse livro agora, sobretudo depois da viagem que acabo de chegar e que espero vir a postar, sem largar a N2 de Chaves a Faro durante 5 dias.
Este livro "As duas estradas" do planeta tangerina é uma MARAVILHA, uma verdadeira homenagem às estradas esquecidas.
Eu sabia q ias gostar...
bjnhs!!
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