O meu primo que foi para Macau na ultima leva de portugueses que partiram para o Oriente, nunca mais voltou. Volta e meia vem cá em esforço e de fugida, não fossem as suas "suiças" já nada tinha de português!

A Praia do Sul na Ericeira não é muito grande mas será o suficiente para que os territórios estejam bem demarcados. Aqui na zona da baleia na vazante forma um belo charco para as crianças chapinharem, ali ficam as famílias populares, a grande algazarra das criancinhas e os banhistas reformados que ocupam as cadeiras do paredão com a mesma vista do desenho. Mais abaixo montam-se chapéus de sol para frequentadores de ocasião, uns metros a sul assim que o areal permite instalam-se baterias de toldos que fazem a sombra paga à época das "tias veteranas" veraneantes. Finalmente na ponta sul fica uma espécie de "zona franca" terra de ninguém para onde vão todos os que querem fugir às reservas territoriais.

+ do mesmo...

"Mais do mesmo". O termo é algo depreciativo mas às vezes é muito bom que assim seja e assim continue, especialmente agora que a época balnear oficialmente fechou, o verão acabou ontem e dizem que amanhã já chove!

Durante a época de praia armam-se e desarmam-se casamentos, há mulheres, namoradas, namorados ou maridos novos de ano para ano, há também crianças novas a dormir na areia, outras que ainda no ano passado eram mais pequenas que tu, parece que não foi há muito tempo que comecei regularmente a passar a quinzena na Arrifana, pelo menos o tempo suficiente para uma geração ter crescido e a outra já vir a caminho sobre as pegadas do mesmo areal.

Sempre a mesma janela , a mesma paisagem que por mais que se olhe nunca cansa.

Lagartar, vegetar, bezerrar, coxilar, termos de época balnear.

Não existem muitas alturas do ano em que seja socialmente aceite poder ficar assim sem mais nada, simplesmente a olhar.

Na praia os níveis e os desníveis provocam visões engraçadas.
Corpo, corpo e meio, meio corpo, só cabeça, só costas, cabeça e costas, sem pés, sem pernas, emerge submerge e por ai fora.

oO tempo de antena aqui é precioso, tempo de corda de estender, que cada cueca, biquini, toalha, calção, lençol ou camisa aqui ocupa não tem preço, tem gente que paga muito por isso pelo mundo fora, aqui o estendal goza das vistas e ninguém lhe pede contas, de graça e cheio de graça.

Com os caderninhos ou sem, mas com dá mais jeito, podemos levar o desenho para todo o lado e a praia é como todos podem ver, um desfilar de assuntos irresistíveis. Para quem gosta ou gostava de o fazer mas precisava de um empurrãosinho entre 15 a 25 de Setembro vai haver uns workshops nos "Espaços de Desenho" na fábrica de braço de Prata. Ver aqui. Eu também vou lá estar para o empurrãosinho!

Diz que para o ano o POOC (Plano Ordenamento da Orla Costeira) vai passar por aqui! Com o pooc vai-se o improviso criativo e inventivo da utilização aproveitamento de materiais que servem para muito mais do que a função para a qual foram criados. Com o pooc a D. Amélia terá de estender a roupa nas traseiras para não estragar a vista ao turista, com o pooc o Sr. Rui não fará mais bricolagem, com o pooc as crianças não caem no precipício, com o pooc, os grelhadores a carvão vão passar a ser eléctricos, com o pooc o passadiço de cimento será revestido em "deck" de madeira nórdica, com o pooc não haverá mais mangueiras pelo chão, nem xixi de cão, nem espinhas de peixe para o gato trinchar, nem cão, com o pooc não haverá mais telhas de betão, com o pooc não haverá puxadas de iluminação, pelo progresso da civilização para o ano com um simples "póc" certamente que ficaremos mais pobres naquilo que éramos verdadeiramente bons, no melhor sentido, a armar barraca sempre com inovação inventiva, colagens, bricolagens e muito improviso.

"Naquela janela virada para o mar". Ainda e sempre como dizia hfm num comentário anterior e Tristão da Silva há 60 anos atrás.

Nesta altura todas as tarefas de sol a sol se transferem para o areal.

Monte Clérigo foi a praia rainha aqui da zona de Aljezur, perdeu popularidade para a praia vizinha que nunca fora muito mais do que um pequeno porto natural de pescadores. A moda do surf projectou a Arrifana para o top, mas Monte Clérigo talvez graças a isso manteve-se intacta com a mesma aura de sempre, nostálgica com os mesmos casinhotos semi clandestinos, com telhados em "lusalite" ondulado e pequenas janelas viradas para o mar.

Numa data altura do ano as pessoas chegam, emergem, submergem e deitam-se no chão, se virmos bem a praia é um lugar estranho.

O Amado já foi a praia mais bonita da Costa Vicentina. Há 10 anos atrás já era conhecida na Alemanha como a grande Meca das "raives" e do surf. Tornou-se num verdadeiro caos, num ancoradouro espécie de santuário de germânicos mal lavados recém iniciados nas lides das ondas. Agora está tudo mais ordenado, muito longe do encanto da memória da praia deserta, é também hoje interessante ver a mistura de gentes de prancha na mão que ali desemboca. O surf que foi tão mal visto em tempos, é hoje tão consensual.

A praia da Arrifana não tem mudado muito.
As pessoas sim.

O Basset é o cão ideal para levar para as areias interditas da época balnear, como não se mexe e se esconde à sombra não é detectado pelas autoridades da capitania!

"Rooms", "Chambres", "Zimmers", o melhor do verão passa também por isto mesmo, a oportunidade recíproca clandestina de famílias cederem as suas casas junto ao mar durante a época dos turistas e de estes poderem entrar e abancar, por suas casas a dentro.
Anúncios em tabuinhas pintadas à janela quartos com requinte num improviso que vai das letras da tabuleta aos bibelot, das colchas, cortinas e cortinados, às instalações labirínticas do gás e da electricidade, da cortina do duche e a toda rasquisse resultante daquela que foi a nossa maior qualidade como povo, um espírito imbatível de desenrasque rasca, que também isso estamos muito rapidamente a perder.
No verão passado a Maria levou a "Bimbi" para juntar ao decor, este ano havemos de a levar outra vez para passar a quinzena junto do violinista de loiça e do napron em cima do junex.

Provavelmente o grelhador com melhor vista do mundo!

Há dias assim que não sendo nada de especial nos ficam na cabeça, às vezes basta só ter algum tempo a mais para poder desperdiçar. Sair da água numa manhã de ondas sem vento e mar liso, nas ondas estarem só dois amigos que se encontram ao acaso, sair e não ter pressa de fazer um desenho é uma delicia num dia guardado na memória.

O San-Payo está ali sentado no all do hotel a fazer o mesmo que eu. Andar com os caderninhos em hotéis e palestras quase que nos faz sentir importantes!

Viagem a lagos nestas andanças de exposições e palestras à volta dos desenhos em cadernos, conversas a bordo com 3 especialistas na matéria. Eduardo Salavisa, José Louro e Manuel San-Payo

A Salomé trouxe a cadela que se foi enroscando na sala de aula por entre bancos e cavaletes.

Já aqui tinha postado um almocinho nesta messe dos sargentos da marinha ali para a rua de alfama junto à paragem do 28. À terceira já sou cliente, ninguém me olha já com cara de intruso, desta vez o desenho veio antes do prato, ficou perturbado pela fome, contrariamente ao da primeira vez já depois do cafésinho, bem mais sereno. Ainda a dar o preto e o sargento do cimo da varanda avisava que o prato estava na mesa e que passasse depois pela cozinha para a gente também ficar no boneco!

O topo de um moderno parque de estacionamento ali junto à Cerca Moura foi durante poucos anos um improvisado "skatepark", até que alguém com menos improviso e mais empreendedorismo ali fez uma esplanada com puffs e sofás iguais aos que temos em casa, de frente para uma vista que não tem preço, excepto tudo o resto que se faz valer por isso mesmo.

Às vezes os desenhos são feitos em dois tempos, neste caso em dois espaços também. Os passageiros da ida em azul e os passageiros da volta a negro.

Ainda nos queixamos dos nossos alunos! Nestas acções de formação de formadores apercebemos que os professores quando vestem a pele de aluno ainda são mais barulhentos e desconcentrados! Aqui num raro momento de concentração um Prof de pé desenha no seu diário gráfico o melhor que sabe do melhor que vê no pátio da Escola do Cacém.

Atenção... luzes, claquete...acção! 20 minutos, alto contraste para a mota do Professor Nuno, com tal tamanha cilindrada que mal coube na porta de entrada da sala de aula.
Podia ser o arranque para um filme publicitário mas foi ainda melhor, talvez um dos modelos que proporcionaram melhores desenhos na turma este ano.

Terminou esta semana mais uma boa experiência no CIEAM, alguns dos resistentes que vemos neste desenho do início do ano, aguentaram esta enorme maratona ilustrada até Julho, parabéns!

Há sempre uns quantos mal encarados no vai e vem desta sala rolante.

As exposições de design têm sempre este problema, para "encher o olho" ao visitante as peças seleccionadas como objectos de design, são por vezes mais fetiches do que na realidade exemplos do que se considera ser classificado como "design".
Uma vulgar caneta "bic" é certamente muito mais valiosa como peça de design do que muitos dos objectos excêntricos que vemos expostos.
Num antigo Banco da Rua Augusta abriu uma colecção de peças de Design industrial, onde se expuseram algumas preciosidades da era do plástico. No pós guerra este material novo entrou em força em praticamente tudo, foi fantástico, fácil, leve colorido e barato, algumas cadeiras destas de Herman Miller ainda se fabricam.

A Sé com os alunos, naquele dia de sol do inverno deste ano.

Nâo, não é a fenprof, nem a ultima ceia, trata-se da frente de professores na escola do Cacém, durante a ultima sessão da formação de formadores, com o diário gráfico como tema de trabalho.

Chegámos esta semana a outra estação brevemente as rotinas vão mudar, as paragens vão ser outras.

A minha sala de aula fica mais bonita com sol e sem alunos, é assim que vai ficar até Outubro sem ninguém para apreciar as vistas.

Este inverno o mar tal como o tempo esteve monstruoso, foram muitas as vezes em que parei a carrinha junto ao mar e troquei a sessão de surf por uma sessão de desenho indoor do lado de dentro desta enorme baía de vidro, resguardado da tempestade.

Na véspera de Natal tomámos o pequeno almoço ali para os lados do Chile. O Richard veio de Madrid e trouxe num berço a sua obra mais recente.